Perdoas ou não perdoas?
Há coisas da nossa história que nunca perdoaremos. Há acontecimentos da nossa vida que não conseguiremos jamais perdoar. O nosso corpo não pode perdoar algo que o agrediu, pois perdoá-lo poderia significar deixar entrar o agressor novamente e isso seria ameaçador para o próprio sistema.
Oiço muitas vezes dizer que “temos que perdoar para libertar”, mas a verdadeira libertação tem a ver connosco próprios. Tem a ver com voltar a confiar em novas possibilidades da criação que estamos a fazer da nossa história. Tem a ver com a criação de novos tipos de vínculos, saudáveis e benéficos para nós mesmos. E aceitar que há uma parte nossa que estará sempre zangada com aquele acontecimento e que isso talvez seja necessário para o sistema. Aceitar que nunca vamos poder alterar o que aconteceu lá atrás.
Ao acolhermos a zanga estamos a respeitar-nos a nós mesmos e talvez, aí sim, poderemos perdoar verdadeiramente. Não o acontecimento ou a pessoa. Mas a nós mesmos, por nos termos mantido tanto tempo vinculados a esse “algo” que nos agrediu. Aí sim, talvez possamos continuar pela vida, confiando nas novas possibilidades, respeitando profundamente o nosso sentir. Talvez perdoar seja voltar a confiar na vida, nos vínculos, no outro. Sabendo que o que foi, foi. Não há volta a dar, ficará para sempre.